Prova Língua Portuguesa / Literatura Brasileira - UERJ - 2010
Gabarito Língua Portuguesa / Literatura Brasileira - UERJ - 2010
TEXTO I
Astroteologia
Aparentemente, foi o filósofo grego Epicuro que sugeriu, já em torno de 270 a.C., que existem inúmeros mundos espalhados pelo cosmo, alguns como o nosso e outros completamente diferentes, muitos deles com criaturas e plantas.
Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado uma fração significativa do debate entre ciência e religião. Em um exemplo dramático, o monge Giordano Bruno foi queimado vivo pela Inquisição Romana em 1600 por pregar, dentre outras coisas, que cada estrela é um Sol e que cada Sol tem seus planetas.
Religiões mais conservadoras negam a possibilidade de vida extraterrestre, especialmente se for inteligente. No caso do cristianismo, Deus é o criador e a criação é descrita na Bíblia, e não vemos qualquer menção de outros mundos e gentes. Pelo contrário, os homens são as criaturas escolhidas e, portanto, privilegiadas.
Todos os animais e plantas terrestres estão aqui para nos servir. Ser inteligente é uma dádiva que nos põe no topo da pirâmide da vida.
O que ocorreria se travássemos contato com outra civilização inteligente? Deixando de lado as inúmeras dificuldades de um contato dessa natureza – da raridade da vida aos desafios tecnológicos de viagens interestelares – tudo depende do nível de inteligência dos membros dessa civilização.
Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida de que são muito mais desenvolvidos do que nós. Não necessariamente mais inteligentes, mas com mais tempo para desenvolver suas tecnologias. Afinal, estamos ainda na infância da era tecnológica: a primeira locomotiva a vapor foi inventada há menos de 200 anos (em 1814).
Tal qual a reação dos nativos das Américas quando viram as armas de fogo dos europeus, o que são capazes de fazer nos pareceria mágica.
Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista, a probabilidade de que sejam mais inteligentes do que nós é alta. De qualquer forma, mais inteligentes ou mais avançados tecnologicamente, nossa reação ao travar contato com tais seres seria um misto de adoração e terror.
Se fossem muito mais avançados do que nós, a ponto de haverem desenvolvido tecnologias que os liberassem de seus corpos, esses seres teriam uma existência apenas espiritual. A essa altura, seria difícil distingui-los de deuses.
Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus com seus radiotelescópios tentando ouvir sinais de civilizações inteligentes. (...) Infelizmente, até agora nada foi encontrado. Muitos cientistas acham essa busca uma imensa perda de tempo e de dinheiro. As chances de que algo significativo venha a ser encontrado são extremamente remotas.
Em quais frequências os ETs estariam enviando os seus sinais? E como decifrá-los? Por outro lado, os que defendem a busca afirmam que um resultado positivo mudaria profundamente a nossa civilização.
A confirmação da existência de outra forma de vida inteligente no universo provocaria uma revolução.
Alguns até afirmam que seria a maior notícia já anunciada de todos os tempos. Eu concordo.
Não estaríamos mais sós. Se os ETs fossem mais avançados e pacíficos, poderiam nos ajudar a lidar com nossos problemas sociais, como a fome, o racismo e os confrontos religiosos. Talvez nos ajudassem a resolver desafios científicos. Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses que tantos acreditam existir?
Não é à toa que inúmeras seitas modernas dirigem suas preces às estrelas e não aos altares.
Astroteologia
Marcelo Gleiser
Folha de São Paulo, 01/03/2009
Questão - 01
Todo texto argumentativo é construído com base na apresentação e defesa de pontos de vista.
A premissa do autor a favor de pesquisas interplanetárias apoia-se, sobretudo, na possibilidade de:
(A) incentivar o interesse por outras civilizações
(B) livrar os seres humanos dos confrontos religiosos
(C) encorajar os cientistas na busca de novos desafios
(D) conduzir a humanidade a profundas transformações
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (D)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Procedimentos de coerência
Subitem do programa: Compreensão pontual do texto
Objetivo: Reconhecer elemento pontual de construção do sentido do texto.
Comentário da questão:
No penúltimo parágrafo, ao referir-se à possibilidade de, por meio das pesquisas, constatar-se a existência de civilizações extraterrenas, o autor explicita a expectativa de que isso mudaria profundamente nossa civilização e manifesta sua concordância com tal ideia.
Percentual de acertos: 71,29%
Nível de dificuldade: Fácil (acima de 70%)
Questão - 02
Se são eles que vêm até aqui, não há dúvida de que são muito mais desenvolvidos do que nós (l. 16)
O vocábulo que melhor representa o sentido da expressão sublinhada é:
(A) certamente
(B) provavelmente
(C) prioritariamente
(D) fundamentalmente
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (A)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Objetivos discursivos
Subitem do programa: Informar opinião
Objetivo: Identificar sentido estabelecido por recurso a serviço da defesa de uma opinião.
Comentário da questão:
A expressão grifada tem por objetivo apresentar uma conclusão inequívoca do autor para a condição enunciada anteriormente, e o vocábulo que melhor expressa esse sentido pretendido é “certamente”.
Percentual de acertos: 91,30%
Nível de dificuldade: Fácil (acima de 70%)
QUESTÃO 3
Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista, (l. 22)
No fragmento acima, o vocábulo claro projeta uma opinião do autor do texto sobre o que vai ser dito em seguida.
Outro exemplo em que a palavra ou expressão sublinhada cumpre função semelhante é:
(A) Desde então, ideias sobre a pluralidade dos mundos têm ocupado (l. 4)
(B) Por mais de 40 anos, cientistas vasculham os céus (l. 28)
(C) Infelizmente, até agora nada foi encontrado. (l. 29)
(D) Nesse caso, quão diferentes seriam dos deuses (l. 38)
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (C)
Eixo interdisciplinar: Elementos da Argumentação
Item do programa: Recursos argumentativos
Subitem do programa: Modalização
Objetivo: Discriminar emprego de modalizador na construção de sentido pontual no texto.
Comentário da questão:
Modalizadores são palavras ou expressões que projetam um ponto de vista do enunciador acerca do que está sendo enunciado, revelando diferentes intenções comunicativas. Com o uso de “infelizmente”, por exemplo, fica clara a expectativa do autor de que fosse encontrado sinal de vida extraterrena, assim como a frustração dessa expectativa.
Percentual de acertos: 63,36%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
QUESTÃO 4
a primeira locomotiva a vapor foi inventada há menos de 200 anos (em 1814). (l. 18-19)
No contexto do 5º parágrafo, o fragmento acima confirma o que foi dito anteriormente por meio da:
(A) formulação de uma tese
(B) síntese dos argumentos
(C) apresentação de um fato
(D) contraposição dos elementos
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (C)
Eixo interdisciplinar: Elementos da Argumentação
Item do programa: Organização interna do argumento
Subitem do programa: A opinião e o fato
Objetivo: Identificar relação estabelecida entre a opinião e o fato na construção do argumento.
Comentário da questão:
A menção à data de invenção da locomotiva tem por objetivo confirmar a opinião do autor de que estamos ainda no início era da tecnológica.
Percentual de acertos: 78,41%
Nível de dificuldade: Fácil (acima de 70%)
QUESTÃO 5
Ser inteligente é uma dádiva que nos põe no topo da pirâmide da vida. (l. 11-12)
Essa afirmação finaliza o 3º parágrafo, que se organiza do geral para o particular.
No contexto, pode-se dizer que a afirmação tem a função de:
(A) explanar uma crença disseminada pelo senso comum
(B) revelar o ponto de vista defendido por pensadores clássicos
(C) expressar os valores consagrados por uma ideologia religiosa
(D) demonstrar uma opinião sustentada pela argumentação do autor
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (C)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Intertextualidade
Subitem do programa: Discurso relatado
Objetivo: Discriminar discurso atribuído pelo autor a outro (s).
Comentário da questão:
No 3º parágrafo, o autor relata aquelas que seriam as ideias presentes no discurso do cristianismo acerca de um aspecto analisado pelo texto; no caso, a existência de vida inteligente fora da terra. A afirmação que finaliza o parágrafo expressa o ponto de vista do discurso cristão sobre a inteligência humana.
Percentual de acertos: 56,28%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
QUESTÃO 6
Não estaríamos mais sós. (l. 36)
O uso do tempo verbal em que se encontra o vocábulo grifado se justifica porque se trata de:
(A) processo habitual
(B) conclusão pontual
(C) situação hipotética
(D) acontecimento passado
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (C)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: O verbo e sua função na frase
Subitem do programa: Emprego e sentido de tempos verbais
Objetivo: Reconhecer sentido assumido por forma verbal no contexto linguístico.
Comentário da questão:
O emprego do futuro do pretérito expressa uma possibilidade, uma hipótese, projetada a partir da descoberta de civilizações extraterrestres.
Percentual de acertos: 70,38%
Nível de dificuldade: Fácil (acima de 70%)
* Situação hipotética!!
Uma hipótese é uma teoria provável mas não demonstrada, uma suposição admissível. Na matemática, é o conjunto de condições para poder iniciar uma demonstração. Surge no pensamento científico após a recolha de dados observados e na consequência da necessidade de explicação dos fenómenos associados a esses dados. É normalmente seguida de experimentação, que pode levar à verificação ou refutação da hipótese. Assim que comprovada, a hipótese passa a se chamar teoria, lei ou postulado.
Science Fiction
O marciano encontrou-me na rua
e teve medo de minha impossibilidade humana.
Como pode existir, pensou consigo, um ser
que no existir põe tamanha anulação de existência?
Afastou-se o marciano, e persegui-o.
Precisava dele como de um testemunho.
Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se
no ar constelado de problemas.
E fiquei só em mim, de mim ausente.
Carlos Drummond de Andrade
Nova reunião. São Paulo: José Olympio, 1983.
QUESTÃO 7
O autor de Astroteologia caracteriza como um misto de adoração e terror a reação dos homens caso encontrem
alienígenas.
Em Science Fiction, o contato do homem com o alienígena é caracterizado de modo diferente.
O verso que melhor expressa tal diferença é:
(A) O marciano encontrou-me na rua (v. 1)
(B) e teve medo de minha impossibilidade humana. (v. 2)
(C) Precisava dele como de um testemunho. (v. 6)
(D) Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se (v. 7)
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (B)
Eixo interdisciplinar: Aspectos Literários
Item do programa: Construção da personagem
Subitem do programa: Representações do indivíduo e da coletividade
Objetivo: Levantar hipótese acerca das relações entre uma representação, manifesta pelo personagem, e concepções identificadas em outro texto.
Comentário da questão:
A reação caracterizada pelo texto “Astroteologia” sugere algo já cristalizado no imaginário da ficção científica – a admiração e o medo dos seres humanos no contato com alienígenas. Esse sentido é subvertido pelo verso que relata o medo que o alienígena sentiu diante do sujeito poético.
Percentual de acertos: 59,42%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
QUESTÃO 8
O poema narra uma cena comum na ficção científica: o encontro de um ser humano com um marciano. Entretanto,
o poeta dá à cena um caráter inesperado, resultante de um procedimento de construção poética que consiste na
combinação de elementos distintos.
Em Science Fiction, esses elementos distintos são:
(A) inclusão de frase interrogativa – menção ao cenário da rua
(B) ênfase na temática existencial – presença do personagem extraterrestre
(C) postura indagadora do eu poético – ocorrência de um desfecho imprevisível
(D) interlocução no interior do poema – desaparecimento fantasioso do alienígena
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (B)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Intertextualidade
Subitem do programa: Efeitos de subversão de um texto pelo outro
Objetivo: Transferir conhecimentos acerca de um gênero textual para identificação de elementos conflitantes no poema.
Comentário da questão:
A presença do personagem extraterrestre faz pressupor a repetição dos moldes do gênero que se pode denominar como ficção científica. Entretanto, essa expectativa é contrariada pela ênfase, no poema, em uma temática ausente, ou presente apenas de forma secundária, nas produções da ficção científica, no caso, a temática existencial.
Percentual de acertos: 25,13%
Nível de dificuldade: Difícil (abaixo de 30%)
QUESTÃO 9
A pergunta formulada pelo marciano pode ser lida como uma projeção da consciência do próprio sujeito poético.
Um verso que também sugere essa projeção é:
(A) O marciano encontrou-me na rua (v. 1)
(B) Afastou-se o marciano, e persegui-o. (v. 5)
(C) Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se (v. 7)
(D) E fiquei só em mim, de mim ausente. (v. 9)
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (D)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Procedimentos de coerência
Subitem do programa: Compreensão global do texto
Objetivo: Reconhecer elementos com mesmo sentido no texto.
Comentário da questão:
O verso 9 demonstra, assim como os versos 3 e 4, que a figura do marciano se constitui em uma espécie de consciência do próprio sujeito poético, tendo em vista que o desaparecimento do marciano aponta não para a ausência do outro, do estranho, mas para a ausência de si mesmo.
Percentual de acertos: 63,48%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
QUESTÃO 10
Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se
no ar constelado de problemas. (v. 7-8)
O estranhamento provocado no verso sublinhado constitui um caso de:
(A) pleonasmo
(B) metonímia
(C) hipérbole
(D) metáfora
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (D)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Figuras de estilo
Subitem do programa: Metáfora
Objetivo: Discriminar figura de estilo predominante no verso.
Comentário da questão:
A expressão grifada representa uma metáfora porque caracteriza o espaço do desaparecimento do marciano a partir de uma associação subjetiva, figuração construída por meio de ligações de sentido a serem compreendidas ou interpretadas pelo leitor.
Percentual de acertos: 54,60%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
Saíba mais sobre as Figuras de linguagens !
Pleonasmo pode ser tanto uma figura de linguagem quanto um vício de linguagem. O pleonasmo é uma redundância (proposital ou não) em uma expressão, enfatizando-a.
Chama-se de metonímia ou transnominação uma figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles.
Definição básica: Figura retórica que consiste no emprego de uma palavra por outra que a recorda.
Efeito pela causa:
Sócrates tomou a morte. (O efeito é a morte, a causa é o veneno).
Causa pelo efeito:
Por favor, não fume dentro de casa: sou alérgica a cigarro. (O cigarro é a causa: a fumaça, o efeito. Podemos ser alérgicos a fumaça, mas não ao cigarro).
Marca pelo produto:
O meu irmãozinho adora danone.(Danone é a marca de um iogurte; o menino gosta de iogurte)
Autor pela obra:
Lemos Machado de Assis por interesse. (Ninguém, na verdade, lê o autor, mas as obras dele em geral.)
Continente pelo conteúdo:
Bebeu o cálice da salvação. (Ninguém engole um cálice, mas sim a bebida que está nele.)
Possuidor pelo possuído:
Ir ao barbeiro. (O barbeiro trabalha na barbearia, aonde se vai - de fato, ninguém vai a uma pessoa, mas ao local onde ela está).
Matéria pelo objeto:
Quem por ferro fere... (ferro substitui, aqui, espada,por exemplo)
O lugar pela coisa:
Uma garrafa de Porto. (Porto é o nome da cidade conotada com a bebida - mas não é a cidade que fica na garrafa, mas sim a bebida).
O instrumento pela causa ativa:
Sou bom de garfo. (em substituição de "alguém que come bastante").
A coisa pela sua representação = (sinal pela coisa significada):
És a minha âncora. (em substituição de "segurança").
Parte pelo todo:
A mão empurrou o carrinho do bebê. (na verdade quem empurra o carrinho é a pessoa e não só a mão).
Instituição pelo que representa:
A igreja publicou seu novo livro (quem publica é uma editora ou alguém)
Causa primaria pela secundaria:
O engenheiro construiu mal o edificio (o engenheiro não constrói só planeja)
O inventor pelo invento:
Ele comprou um Ford (obseve que estamos falando do criador não da marca)
O concreto pelo abstrato(e vice-versa):
A velhice deve ser respeitada(não é a velhice e sim os velhos)
Gênero pela espécie:
Os mortais são capazes de tudo
O singular pelo plural(vice-versa):
O brasileiro é um apaixonado pelo futebol(não é só um brasileiro e sim todos eles)
Determinado pelo inderteminado:
A materia pelo objeto:
Tinem os cristais (não estamos nos refirindos aos cristais e sim aos copos)
A forma pela materia:
Ele cuida com carinho da redonda
Individuo pelas classes:
Odiava ser o judas da sala
Hipérbole ou auxese é a figura de linguagem[1] que incide quando há demasia propositada [2] num conceito expressa, de modo a definir de forma dramática aquilo que se ambiciona vocabular, transmitindo uma idéia aumentada do autêntico.
É habitual na linguagem corrente, como quando se pronuncia: "Já te ressalvei mais de mil ocasiões, para não retrocederes a proferir-me elevado!".
Metáfora é uma figura de estilo (ou tropo linguístico), que consiste na comparação de dois termos sem o uso do conectivo.
"Amor é fogo que arde sem se ver"
— Luís de Camões
O termo fogo mantém seu sentido próprio - desenvolvimento simultâneo de calor e luz, que é produto da combustão de matérias inflamáveis, como, por exemplo, o carvão - e possui sentidos figurados - fervor, paixão, excitação, sofrimento etc.
Didaticamente, pode-se considerá-la como uma comparação que não usa conectivo (por exemplo, "como"), mas que apresenta de forma literal uma equivalência que é apenas figurada.
Meu coração é um balde despejado
— Fernando Pessoa
QUESTÃO 11
Na primeira estrofe, é possível observar a ocorrência de um recurso discursivo indicado pelos vocábulos “me” e “consigo”.
Esse recurso pode ser definido como:
(A) emprego de duas figuras de estilo
(B) presença de mais de um enunciador
(C) reiteração da ótica do sujeito poético
(D) alusão à diversidade de personagens
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (B)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Enunciação e relações dêiticas
Subitem do programa: Vozes ou perspectivas enunciativas
Objetivo: Explicar objetivo do emprego de um recurso discursivo.
Comentário da questão:
Os vocábulos “me” e “consigo” contribuem para explicitar as diferentes vozes com que o poema é estruturado, seja do sujeito poético (me), seja do marciano (consigo).
Percentual de acertos: 32,19%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
Crítica: O dia em que a Terra parou
O remake O dia em que a Terra parou, filme estrelado por Keanu Reeves e com um orçamento de US$ 80 milhões, é um prato cheio para os aficionados da ficção científica. O primeiro O dia em que a Terra parou, dirigido por Robert Wise, rodado em 1951, foi um apelo ao fim da Guerra Fria. O recente, dirigido por Scott Derrickson, um apelo ao desmatamento, guerras insanas, violência, etc. O que muitos
não sabem é que o filme foi baseado no conto Farewell to the Master, do escritor Harry Bates. Relevante no aspecto “conscientização”, mas infantil em outros. Os efeitos especiais são incríveis, e o gigante robô biológico Gort, que acompanha o alienígena Klaatu, mesmo sem pronunciar palavra e ficando estático
quase todo o tempo, dá um show. O pequeno Jaden Smith, filho do ator Will Smith, fez boa interpretação, e tenho certeza do promissor sucesso. Mas, como apaixonado por FC [ficção científica], sou suspeito pra falar deste gênero. Confesso que, em “longos” momentos, o filme foi parado: sem ação alguma. Já no termo da lógica: se realmente existirem alienígenas, será que se preocupariam com o nosso planeta? Por
quê? Acredito que não. O universo pode ter milhões de outros planetas habitados, segundo o consagrado doutor em cosmologia e físico teórico Stephen Hawking. Por que se interessariam em salvar justamente o nosso?
No filme, o alienígena Klaatu, diferente do que parece, não tem boas intenções com os seres humanos.
Sua única intenção é salvar o planeta Terra de nós, que o estamos destruindo aos poucos, o que não deixa de ser verdade.
Interessante, com menos ação e violência que Guerra dos mundos, mas igualmente impactante.
Recomendo.
Crítica: O dia em que a Terra parou Ademir Pascale
www.cranik.com
QUESTÃO 12
As formas interrogativas podem assumir diversas funções ou sentidos, dependendo do contexto.
No texto, a frase Por que se interessariam em salvar justamente o nosso? (l. 13-14) traz implícito um sentido de:
(A) negação
(B) indecisão
(C) concessão
(D) reafirmação
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ
Alternativa correta: (A)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Procedimentos de coerência
Subitem do programa: Formas do implícito: subentendido
Objetivo: Discriminar o sentido subentendido por meio de interrogação.
Comentário da questão:
A interrogação pode expressar vários sentidos. Nesse contexto, ao revelar a opinião do autor, traz uma informação implícita, subentendida, que é traduzida pela negação de todo o enunciado interrogativo / precedido pela interrogação. A formulação interrogativa poderia ser, de fato, transformada em negativa (Eles não se interessariam em salvar justamente o nosso), com a manutenção do sentido essencial presente no contexto.
Percentual de acertos: 28,14%
Nível de dificuldade: Difícil (abaixo de 30%)
QUESTÃO 13
O texto oferece ao leitor informações sobre o filme filtradas pelo autor e somadas às suas avaliações pessoais.
Esse recurso linguístico, próprio das resenhas, está mais bem exemplificado em:
(A) O remake O dia em que a Terra parou, filme estrelado por Keanu Reeves e com um orçamento de US$ 80
milhões, é um prato cheio para os aficionados da ficção científica. (l. 1-2)
(B) O que muitos não sabem é que o filme foi baseado no conto Farewell to the Master, do escritor Harry
Bates. (l. 4-5)
(C) Mas, como apaixonado por FC [ficção científica], sou suspeito pra falar deste gênero. (l. 9-10)
(D) O universo pode ter milhões de outros planetas habitados, segundo o consagrado doutor em cosmologia e
físico teórico Stephen Hawking. (l. 12-13)
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (A)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Procedimentos de coerência
Subitem do programa: Compreensão pontual do texto
Objetivo: Discriminar um modo de construção do texto.
Comentário da questão:
As linhas 1 e 2 apresentam informações adicionais, com valor apositivo, sobre o filme em análise. Tais informações desempenham função significativa na estrutura e organização das resenhas por fornecerem esclarecimentos, explicações, contribuindo, assim, para ampliar o sentido do texto. Destaque-se também a avaliação do autor na definição do remake.
Percentual de acertos: 68,39%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
Viagem ao centro da Terra
De início, não enxerguei nada. Havia muito tempo sem verem a luz, meus olhos imediatamente se fecharam.
Quando consegui ver de novo, fiquei mais assustado que admirado:
– O mar!
– É – respondeu meu tio –, o mar Lidenbrock, e espero que nenhum navegador vá me contestar a honra
de tê-lo descoberto e o direito de batizá-lo com meu nome!
Um enorme lençol de água, o começo de um lago ou de um oceano, estendia-se até onde minha vista
não podia alcançar. As ondas vinham bater numa praia bastante recortada, formada por uma areia fina
e dourada, salpicada por aquelas conchinhas que abrigaram os primeiros seres da criação. As ondas
quebravam com aquele barulho característico dos ambientes muito amplos e fechados. Uma espuma
leve era soprada por um vento moderado, e uma garoa me batia no rosto. A cerca de duzentos metros
das ondas, naquela praia ligeiramente inclinada, estavam as escarpas de rochedos enormes, que se
elevavam a uma altura incalculável. Alguns deles, cortando a praia com sua aresta aguda, formavam
cabos e promontórios desgastados pelos dentes da arrebentação. Mesmo ao longe, seus contornos
podiam ser vistos em contraste com o fundo nebuloso do horizonte.
Era realmente um oceano, com o contorno irregular das praias terrestres, mas deserto, com um aspecto
selvagem assustador.
Se minha vista podia passear ao longe naquele mar, era porque uma luz “peculiar” iluminava seus
menores detalhes. Não a luz do Sol, com seus fachos brilhantes e sua irradiação plena, nem a da
Lua, com seu brilho pálido e impreciso, que é apenas um reflexo sem calor. Não, aquela fonte de luz
tinha uma propagação trêmula, uma claridade branca e seca, uma temperatura pouco elevada e um
brilho de fato maior que o da Lua, evidenciando uma origem elétrica. Era como uma aurora boreal, um
fenômeno cósmico permanente numa caverna capaz de conter um oceano.
O texto oferece ao leitor informações sobre o filme filtradas pelo autor e somadas às suas avaliações pessoais.
Esse recurso linguístico, próprio das resenhas, está mais bem exemplificado em:
(A) O remake O dia em que a Terra parou, filme estrelado por Keanu Reeves e com um orçamento de US$ 80
milhões, é um prato cheio para os aficionados da ficção científica. (l. 1-2)
(B) O que muitos não sabem é que o filme foi baseado no conto Farewell to the Master, do escritor Harry
Bates. (l. 4-5)
(C) Mas, como apaixonado por FC [ficção científica], sou suspeito pra falar deste gênero. (l. 9-10)
(D) O universo pode ter milhões de outros planetas habitados, segundo o consagrado doutor em cosmologia e
físico teórico Stephen Hawking. (l. 12-13)
Júlio Verne
Viagem ao centro da Terra. São Paulo: Ática, 2000.
QUESTÃO 14
A descrição do narrador revela que ele toma conhecimento da paisagem de modo gradativo.
Dois fragmentos que demonstram esse conhecimento gradativo são:
(A) o começo de um lago ou de um oceano (l. 6) – Era realmente um oceano (l. 15)
(B) até onde minha vista não podia alcançar (l. 6-7) – Não a luz do Sol, com seus fachos brilhantes (l. 18)
(C) aquele barulho característico dos ambientes muito amplos (l. 9) – Mesmo ao longe, seus contornos podiam
ser vistos (l. 13-14)
(D) Uma espuma leve era soprada por um vento moderado (l. 9-10) – Era como uma aurora boreal (l. 21)
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (A)
Eixo interdisciplinar: Aspectos Literários
Item do programa: Recursos estilísticos de construção do sentido no texto artístico
Subitem do programa: Modos de narrar
Objetivo: Reconhecer o recurso da gradação no texto.
Comentário da questão:
A gradação utilizada pelo narrador é um recurso que realça seu impacto e encantamento diante da paisagem. Ela pode ser observada na sequencia temporal e linear “o começo de uma lago ou de um oceano” / “era realmente um oceano”, que acaba por reforçar o caráter narrativo do texto.
Percentual de acertos: 71,60%
Nível de dificuldade: Fácil (acima de 70%)
QUESTÃO 15
Não, aquela fonte de luz tinha uma propagação trêmula, uma claridade branca e seca, uma temperatura pouco elevada e um brilho de fato maior que o da Lua, evidenciando uma origem elétrica. (l. 19-21)
A passagem transcrita acima revela uma característica na descrição do cenário que pode ser definida como:
(A) exemplificação do tema do diálogo entre personagens
(B) intensificação do envolvimento do narrador com a cena
(C) contraposição com os aspectos visuais relativos à paisagem
(D) enumeração de elementos díspares na composição do espaço
DADOS RETIRADOS DA REVISTA UERJ!
Alternativa correta: (B)
Eixo interdisciplinar: Estrutura e Sentido do Texto
Item do programa: Tipologia textual
Subitem do programa: Descrição
Objetivo: Explicar efeito da descrição de um cenário.
Comentário da questão:
A descrição da paisagem se particulariza e se intensifica na proporção do envolvimento do narrador. A presença do recurso de interlocução “não” reforça o traço subjetivo e de envolvimento do narrador, ao rejeitar uma descrição anterior e destacar aspectos descritivos mais singulares. Além disso, há um efeito de espontaneidade expresso pela repetição da negativa já enunciada, que sugere o pouco distanciamento entre o enunciador e a paisagem descrita.
Percentual de acertos: 51,05%
Nível de dificuldade: Médio (acima de 30% e igual ou abaixo de 70%)
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